Na adolescência é-se com alguma naturalidade impossível. “Não ligues, ele está naquela fase em que é impossível”, quantas vezes não se ouve dizer isto sobre um adolescente?
Na adolescência o que é normal não é normal e, portanto, não é nada anormal enquanto adolescente estar-se intratável. Não é também anormal recordar mais tarde, com saudade este período da vida em que se ousa quase por decreto. Ousa-se no que se faz e acima de tudo no que se sente. A adolescência é quase por lei, um tempo em que abunda a falta de razoabilidade clássica, em que se está a braços com forças e mudanças corporais, sociais e referenciais que irrompem sem aviso na vida do adolescente e que facilmente geram considerável confusão.
A adolescência é um tempo em que se apresentam escolhas a tomar sobre um futuro muito difícil de representar, em que o sonho, o ideal ou a total descrença se impõem muitas vezes com desconcertante intensidade. É um período da vida que não tem como não ser difícil, em que até os mais bem encaminhados andam um pouco desalinhados. De resto, a saúde mental na adolescência muitas vezes pede esse desalinhar, ou não fosse muitas vezes a necessidade de compensar o que não foi vivido na adolescência fora da idade dela, uma necessidade muito mais difícil e custosa de satisfazer.
Sobre a adolescência, há muitas coisas que só adolescência sabe e ensina; mas não é porque a adolescência tem uma estranha e abrupta sabedoria, que a sua tempestade se vá levar sempre a bom porto. Não é também porque nela se reclama da incapacidade dos outros em ajudar, ou perante eles se procura afirmar uma independência omnipotente, que estes perdem importância neste período de transição. Antes pelo contrário, o outro é urgente na psique do adolescente: o desejo de ser aceite, as paixões assolapadas, as desilusões e exigências fervorosas para com os pais dizem-nos isso mesmo. É muitas vezes desta ambiguidade irresoluta que se gera também o pânico nos pais que perdem os filhos como os conheciam até então, e que os sentem muitas vezes como bloqueadores do seu processo de construção de identidade.
A adolescência é uma fase, em que se procura um novo círculo de pessoas de referência que nos influenciem. Essa necessidade de novas referências, cria muitas vezes uma maior desproteção, já que é normal que essas pessoas em que se investe não estejam tão implicadas em proteger, como estava a família. É muito nesse espaço intermédio que muitas vezes se quer um psicólogo; alguém que consiga por um lado introduzir uma dimensão estruturante, cuidadora e responsável, e por outro que também introduza possibilidades novas que permitam a construção de uma nova identidade.
Avaliação e projeto terapêutico
A clínica do adolescente costuma começar com uma sessão que pede a participação dos pais em conjunto com adolescente, na qual se expressam preocupações, se esclarecem questões, e em que tento reconhecer algumas dinâmicas familiares.
Essa reunião é depois seguida de um processo de avaliação psicológica, que costuma ter três sessões, uma de entrevista e duas de provas psicológicas.
Por fim, tem lugar uma sessão de devolução dos resultados da avaliação. Num primeiro momento, esta é discutida com o adolescente e num segundo com os pais e adolescente, momento em que procura definir em conjunto o caminho a seguir.